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Foto do escritorVictor Hugo Germano

Agile Alliance agora é PMI

Atualizado: 6 de jan.


Perspectivas
Perspectiva

Por muitos anos, a Agile Alliance foi uma das únicas organizações agnóstica quanto à venda de certificações, criando um dos maiores espaços no mundo para que especialistas em Agile pudessem trocar idéias e questionar muitas das regras de gestão arraigadas no mundo.


Enquanto todas as organizações ao redor de Agile (no Brasil e no mundo), vendiam certificações, treinamentos e consultoria, a Agile Alliance se manteve à parte, construindo espaços e fomentando o maior evento de Agilidade do mundo. O recurso gerado pela organização através da Agile Conference era usado para viabilizar diversos projetos de fomento. Por algum tempo estive no papel de Initiative Shepherd para apoiar pessoas na criação de programas na Colombia, India, Africa do Sul, Brasil, Canada e EUA.


Foi exatamente isso que me atraiu para a AA e que me fez dedicar 6 anos para o Board de Diretores, além de mais de 10 anos na comunidade ágil brasileira. Sou bastante orgulhoso do trabalho e acredito que contribuí para o alcance dos princípios e valores ágeis no mundo. Foram anos incríveis de trabalho, e tenho muito respeito por todas as pessoas que encontrei enquanto estive atuante na organização. O merge entre PMI e AA chega como a primeira grande notícia para o mercado de processo e metodologias do ano de 2025. Eu entendo os desafios atuais, tenho certeza que não foi uma decisão fácil e respeito o resultado.


Alfred Pennysworth resumiu bem a situação:

"E em desespero, eles se viraram para um homem que não entendiam completamente" - The Dark Knight


Antes de apresentar minha análise: meu termo no Board de Diretores da Agile Alliance se encerrou no final de 2021, e no momento não tenho nenhuma informação interna. Escrevo com o que sei de dados públicos sobre ambas as organizações, nesses anos todos dedicados ao mundo ágil. Tudo o que você le aqui é especulativo.


PMI compra Agile Alliance?

PMI comprou a Agile Alliance?
Agile Alliance agora é PMI

A notícia da parceria da Agile Alliance com o PMI sinaliza uma nota etapa no mercado, afetado pela mudança que aconteceu pos pandemia (ou desde 2018). O mundo mudou, e Agile e suas instituições não conseguiram acompanhar adequadamente a nova realidade de negócios: as novas gerações de profissionais já enxergam Agile como uma burocracia desnecessária e que não ajuda a entregar nada direito. Além disso, acredito que essa movimentação denota a transição para o Late Majority da adoção da agilidade - nada mais irônico do que a Instituição que no passado criticou drasticamente a auto-gestão, chegar para resgatar uma non-profit em tempos de crise.


Eu tenho total certeza que esta é uma decisão acertada para a sobrevivência do que a Instituição construiu, nesses 23 anos, na comunidade ágil. Por mais que meu cinismo lute contra, era inevitável algo do tipo acontecer. Em tempos difíceis, decisões difíceis.


Rodar uma non-profit com recursos limitados, compromissos de longo prazo e em meio a uma mudança cultural é um mega desafio: sempre foi complexo garantir o crescimento da organização e ampliar participação de pessoas no evento principal. Especialmente pós covid, quando eventos presenciais perderam o apelo e tudo ficou mais caro, os contratos de longo prazo com hotéis seguiram sendo cobrados, piorando a situação.


No decorrer dos últimos anos a Agile Alliance compartilhou todas as informações financeiras com a comunidade, e realmente a situação estava difícil.


Numa realidade em que qualquer evento mal sucedido coloca em risco a própria existência da organização. Mesmo com outras poucas fontes de receita, imagino que os últimos anos tenham sido intensos para a nova gestão.


Um fato: certificações garantem a sobrevivência das empresas nesse mercado. Se manter agnóstico, fazendo eventos e seguindo o saudosismo de 20 anos atrás, não. O período de idealistas da agilidade acabou.

Recepção positiva...

A comunidade de desenvolvimento de software abandonou em peso os eventos ágeis, pois eles se tornaram irrelevantes. A comunidade de produtos abandonou em peso os eventos ágeis, pois eles se tornaram irrelevantes. E em meio disso tudo, cresceram as participações de profissionais de gestão de projetos, buscando aprofundamento nas práticas mainstream de 2010 - nessa realidade o PMI nada de braçada. Será mesmo que esse merge vai resolver isso? Ou esta é uma luta perdida há tempos?


Na busca de ampliar o alcance de Agilidade para todas as frentes do trabalho, a maior parte das organizações tem se tornado irrelevante e perdendo a força: sobram aquelas que transformaram o seu conteúdo em ferramentas padronizadas, entregando certificados e rezando a cartilha do Complexo Industrial da Agilidade.



Há anos existem iniciativas "ágeis" tentando reaproximar a nova geração de profissionais de tecnologia, sem muito sucesso. Os números falam por si só, e a mudança vem num momento oportuno.


David Sabine disse de uma forma mais direta, e eu concordo: PMI vai mastigar a Agile Alliance, assim como fez com Disciplined Agile. Ainda que eu discorde do texto em vários pontos, é difícil acreditar no altruísmo e boa vontade do PMI em manter a organização, enquanto todo o Staff se torna parte do PMI, muda-se o trademark e potencialmente se posiciona como "dona" do evento principal. If it walks like a duck...


A extensão da influência e independência da organização ainda não é clara, e o papel da comunidade também não - seguindo as informações oficiais, nada muda. Mas o discurso ainda está na fase de PR, e é necessário mais tempo para entender.


Eu me lembro do início do meu papel no Board, enquanto discutíamos a possibilidade de parceria com o PMI em assuntos mais mundanos, e o entendimento era:


Uma Parceria com o PMI é como se um Gorila te convidasse pra jantar e pedisse pra você ir com uma Fantasia de Banana

Talvez eu seja enviesado em minhas opiniões sobre o PMI, principalmente devido ao que já vi ser feito ao redor dos eventos que construímos no Brasil. Como quando o presidente do PMI Brasil, num Scrum Gathering, disse que em hipótese nenhuma auto-gestão funcionaria no mundo, e que "Algumas pessoas sempre precisam receber ordens para trabalhar".


Eu vivi o reflexo do que uma gestão de projetos baseada em processos fixos, estimativas fixas e escopos fixos, dependentes de gestão de mudanças tão burocráticas que nenhum projeto de software sobreviveu para contar história. Tudo o que o PMI representou no passado, foi justamente o motivo do evento em Snowbird, criando o conjunto de princípios e valores que transformou nossa forma de trabalho. Essa movimentação envia uma mensagem clara para organizações ao redor do mundo, e é disso que eu fico preocupado.


Apesar disso, na Agile Alliance tivemos inúmeras iniciativas importantes de intercâmbio que deram alguns frutos como o Agile Practices Guide, entregue para toda a comunidade PMI. No fundo, pensávamos: o PMI vai fazer o trabalho de qualquer forma, e podemos apoia-los para que ele não descarrilhe o conceito de vez. Além disso, a Iniciativa Brightline, ativa há alguns anos, me parece ser bastante independente da organização, um ponto positivo. Dos males, o menor.


No fundo, o PMI tem se transformado no decorrer dos anos, e apesar de nem sempre a sua comunidade de membros seguir o mesmo caminho, existe um interesse em se atualizar e modernizar. Meu ceticismo não é infundado, mas talvez seja exagerado.


A Agile Alliance ganha uma sobrevida. Mesmo que esta “parceria” tenha mais cara de M&A clássico, quero terminar meu texto com uma perspectiva mais positiva.


Realmente espero que tudo que a AA construiu possa servir para iluminar a disciplina de gestão de projetos na comunidade PMI, e ampliar o alcance dos princípios e valores.


Em ultima instância, se nutrido com cuidado, a união entre Agile Alliance e PMI pode habilitar ambas as organizações para alcançar a necessidades modernas de times, stakeholders e negócios globalmente. Este momento pode marcar o começo de um novo capítulo ambicioso em como os projetos são concebidos, planejados e executados.

Espero que em 2 anos, eu possa olhar para trás e ver o que foi produzido em conjunto com bons olhos. Mas até lá, esperamos...



Foi bom enquanto durou

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